CHEGA DE UFOS

Ciro Moroni Barroso

Culturarte, Petrópolis

Maio de 1995       [revisão e notas, 1999]


É incrível como a TV Globo consegue sempre desinformar as informações, isto é, esvaziar o conteúdo principal das notícias e repetir tudo-aquilo-que-já-era-sabido-antes. Agora chegou a vez do grande monopólio audio-visual nacional investir nos assim chamados e indevidamente apelidados “ufos”. Mais uma vez, num recente programa O Fantástico, o tema das visitações extraterrenas foi tratado de forma sensacionalista, exótica, imprecisa e desinformadora.

Há um tipo de extraterrenos cuja presença tem sido amplamente evidenciada, principalmente nos Estados Unidos, por parte dos pesquisadores civis, e comprovada, de forma sigilosa, nos meios militares, e que são conhecidos como rigelianos e zeta-reticulianos, como referência a seus sistemas de origem, ou apelidados de “cinzas”, como referência à cor de sua pele. É o tipo de extraterreno que foi divulgado por Hollywood através do filme Contatos Imediatos, bastante sensacionalista e apelativo, e entre os pesquisadores civis por Witley Strieber, em seu livro Comunhão, igualmente insípido e pretencioso. É este o extraterreno cuja imagem todos “conhecem”: esquálido, careca, com grandes olhos escuros ameaçadores. E é nesse ser, que serve de protótipo para filmes de suspense e terror classe B que a TV Globo investe, é claro, dentro de sua tradicional programação: vamos-neutralizar-a-inteligência-e-sensibilidade-do-telespectador.

Estes tipos “cinzas”, parecem pertencer a uma linha de evolução baseada numa origem reptiliana nesta galáxia, porém alcançando um padrão de evolução comparável ou compativel em alguns pontos com nosso tipo humano (Com a idéia de evolução se definindo aqui em termos de um modelo vitalista-espiritualista, e não biológico -darwinista.). Este não é um ser a quem nós, humanos terrenos, possamos dar as boas-vindas, tal como no filme de Hollywood: eles são seres que estão passando por uma atrofia orgânica e genética, e que vêm à Terra como predadores. Seu principal esporte aqui é coletar amostras de sêmen masculino e óvulos femininos, para a reprodução artificial de seres híbridos entre a forma deles e a nossa, assim como amostras de secreções glandulares nossas, que lhes servem como uma espécie de nutriente. São eles os responsáveis pelos milhares de relatos de pessoas que se vêem raptadas e imobilizadas dentro de naves, onde são examinadas em mesas de operações “médicas”. Embora sejam poucos os casos em que as pessoas da Terra apareçam mortas depois dos raptos, eles são sem dúvida seres indesejáveis e terroristas, responsáveis por traumas nas pessoas raptadas, que são atualmente tratadas por regressão hipnótica em consultório de psicologia, com respaldo dos pesquisadores civis e parte da comunidade psiquiátrica nos Estados Unidos, e também agora no Brasil: Raymond Fowler, Leo Sprinkle, Edith Fiori, Budd Hopkins, Gilda Moura, são alguns dos autores que tratam deste assunto.[16]

Há, no entanto, um “segredinho sujo” em torno da presença destes rigelianos e zeta-reticulianos entre nós. Nos anos 50 eles contataram alguns grupos de elite militares e de inteligência principalmente, mas não apenas, nos Estados Unidos (o que o filme de Hollywood de certa forma revela) e fizeram uma proposta de acordo secreto: em troca de eles passarem informações privilegiadas sobre propulsão de naves, eles obteriam sigilosamente do governo a permissão para “abduzir”(mais um, dentre tantos eufemismos) e para fazer certos “exames” em alguns cidadãos de nosso mundo. Uma série de depoimentos de militares dissidentes nos Estados Unidos revela atualmente (e no Brasil a nossa Aeronáutica está a par do assunto) que nos anos 60 as autoridades militares e de inteligência descobriram que não eram capazes de controlar os greys, e que eles estavam se transformando numa espécie de praga.

É esta a origem da imposição deste termo de radar (objeto-voador não-identificado) deslocado numa estranha contorsão semiológica, o termo “ufo” (para nós, o termo “ovni”), igualmente dotado de uma peculiar e cômica atração enigmática. Nos anos 50 a Força Aérea norte-americana começou a relatar a presença de discos voadores nos céus nacionais, o que significava no imaginário público “naves interestelares”. Por causa dos acordos secretos, a própria comunidade de inteligência ordenou o uso do eufemismo ufo, de modo que a imagem que se tornara pública não ficava nem confirmada nem desmentida, tudo sendo jogado para o campo da especulação difusa e ocultista. Nos anos 60 o eufemismo foi mais uma vez enfatizado, sendo adotado pelos pesquisadores civis, que passaram a ser chamar “ufologistas”.[17] E com isto, o público ficou subliminarmente advertido sobre a presença dos extraterrenos predadores, a verdadeira história a respeito sendo jogada para girar no caldeirão pop das sub-culturas desejantes não-científicas.

A questão mais séria em torno da “falsidade ideológica” dos “ufos”, entretanto, não é esta. Também nos anos 50 outros extraterrenos, estes perfeitamente pertencentes ao tipo humano que conhecemos (aí novamente o paradigma darwinista deve ficar em suspenso em termos cósmicos) fizeram visitas e consultas tanto às autoridades competentes quanto a determinados indivíduos isolados. A proposta destes outros visitantes, que são a rigor nossos parentes, foi no entanto muito diferente: a cessão de tecnologia, assim como o registro científico-cultural de sua presença deveriam ser feitos em aberto, isto é, publicamente, dentro de uma série de pressupostos éticos, e com os resultados históricos atingindo toda a humanidade, e não apenas os grupos de elite militar, governamental, empresarial, etc. Como este processo neutralizaria a política hegemônica destes setores de elite internacionais (aos quais deve-se incluir grupos precursores na Europa, e setores aliados na URSS dos anos 50, e no Japão dos anos 70), a questão ficou em suspenso, dando origem a uma formidável guerra de bastidores que dura 40 anos, envolvendo setores governamentais secretos que apóiam uma ou outra das propostas excludentes.

Com isto, vários fatores de importância histórica estão sendo mantidos fora do alcance do público e da comunidade científica. Em primeiro lugar o fato de que nossa humanidade nunca esteve só, sendo que os outros mundos habitados o são não apenas por seres exóticos, mas também por seres de nossa raça. Em segundo lugar que, entre estes semelhantes, alguns têm mais solidariedade conosco, devido à ética do parentesco, enviando missões frequentes para cá de observação ao longo do tempo histórico. Estes são os confederados que, inclusive, costumam deixar alguns de seus representantes entre nós, atuando estes em alguns casos discretamente, e em outros casos, como lideranças na sociedade, tornando-se lendários: Rama, Merlin, o fundador da civilização micênica em Argos (lenda dos Argonautas), Quetzálcoátlal, etc. Alguns visitantes humanos são meros curiosos, sendo eticamente neutros. Além disso, os que nos são indesejáveis também atuam dentro de uma variedade ética. Há o fato de que subsiste um conflito político e militar entre estas linhas de evolução ético-espiritual. E principalmente, o fato de que as elites secretas internacionais, se impondo nas políticas oficiais de Estado, guardam estas informações de maneira repressiva, atrasando o processo histórico, fazendo repetir a cena da Inquisição e do Renascimento.

[16] O filósofo e cientista Thomas Kuhn (Berkeley, 1962) foi o responsável pela introdução das noções de paradigma e quebra de paradigma nas discussões filosófico-histórico-científicas sobre os modelos teóricos exemplares. Em seu A Estrutura das Revoluções Científicas (Ed. Perspectiva, 1987, pags. 107-8) podemos ler: “Perguntemos, então, como os cientistas respondem à existência (das crises). Parte da resposta, tão óbvio como importante, pode ser descoberta observando-se primeiramente o que os cientistas jamais fazem, mesmo quando se defrontam com anomalias prolongadas e graves. Embora possam começar a perder sua fé e a considerar outras alternativas, não renunciam ao paradigma que os conduziu à crise. Por outra: não tratam as anomalias como contra-exemplos do paradigma (...). Uma teoria científica após ter atingido o status de paradigma, somente é considerada inválida quando existe uma alternativa disponível para substituí-la. Nenhum processo descoberto até agora pelo estudo histórico do desenvolvimento científico assemelha-se ao estereótipo metodológico da falsificação por meio da comparação direta com a natureza. (...) O que leva os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente aceita, baseia-se sempre em algo mais do que esta comparação da teoria com o mundo. Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro, e o juízo que conduz a esta decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua.”

Um exemplo claro a respeito vem, não do mundo científico, mas do mundo jornalístico. Em seu Informe Idéias, o editor do caderno Idéias, Jornal do Brasil, 05/Set/1998, Cláudio Figueiredo, faz o seguinte registro sobre o lançamento do livro A Vida Secreta – Relatos cientificamente documentados de sequestros por alienígenas, de David Jacobs, da editora Rosa dos Tempos, citando inicialmente seu release: “’O sequestro de seres humanos por extraterrestres é abordado pela mídia de forma tão superficial e distorcida, que faz com que o fenômeno não seja levado a sério pela opinião pública’”

O editor do Idéias acrescenta que: “O autor, cujo título de PhD brilha na capa, é professor de História Americana do século 20 na Universidade de Temple, Filadélfia. Na contra-capa, Rose Marie Muraro [editora], idealizadora da coleção Tendências do Milênio, nos informa que é cada vez maior o número de intelectuais e professores de universidades americanas que se dedicam ao tema. Um deles, o autor do prefácio, John E. Mack, dirige, segundo ela, ‘uma das mais eminentes e confiáveis’ das 200 clínicas dedicadas exclusivamente ao tratamento de pessoas abduzidas (sequestradas por discos voadores). A Vida Secreta é fruto de entrevistas com 60 pessoas, submetidas por Jacobs à ‘regressão hipnótica’ ”. Este editor faz ainda o comentário sobre a ação sexual dos alienígenas na qual, segundo o autor Jacobs, “’as abduzidas dizem que o rosto do marido parece se confundir com o rosto do alienígena’” - o que certamente poderia sugerir o paradigma freudiano, e afinal conclui, de maneira surpreendente:

“Enquanto os ufólogos discutem a existência de vida em outros planetas, uma questão mais sombria ronda os círculos intelectuais dos EUA: há vida inteligente no Departamento de História da Universidade de Temple, Filadélfia?”

É nesse sentido que o que se pode chamar de crise de paradigma tem esse aspecto de uma “teimosia inelutável”. O editor do Idéias coloca sua própria lógica em cheque porque, ao fazer todas as citaçõeas necessárias que demonstram que o Dr. Jacobs pertence a “A boa tradição”, isto é, a de Filadélfia, sugere o aspecto imediato e não crítico com que a ciência normal ou o paradigma atual (segundo Kuhn) são aceitos, na imprensa de modo geral, como sinônimos de a boa tradição ou a boa ciência. Isto é, nos seus recortes científicos, a imprensa, de modo geral, faz as citações de peso ou origem acadêmicos toda vez que quer se referir a A Ciência, de um modo ufanista, quando na verdade trata-se sempre, apenas, da ciência normal, ou mesmo da “ciência oficial”.

Fica claro que o problema de Jacobs (ou do Dep. de História de Temple) não poderia ser um problema de “inteligência”, mas certamente de conflito no modelo teórico fundamental ou exemplar.

[17] O termo “ufólogo” faz um irresistível apelo à caricatura (ainda que injusta) e à comédia, no sentido em que a cultura pop define seus vários especialistas, com suas “logias”, assim como o campo científico tem as suas logias bem definidas. Enquanto no campo científico, as disciplinas são definidas justamente a partir das definições dos objetos de estudo, justamente o que os “ufos” não podem ser, as disciplinas da cultura pop dão sempre a impressão de definirem ou especializações em generalidades, ou especializações em aberrações, curiosidades, experiências bizarras, etc. Desse quadro decorre uma série de termos devidamente enigmáticos e imponentes: paranormalidade, paracientífico, cientologia, fenomenologia-ufo, ufologia mística, navexologia, etc. Seria também engraçado se fosse criada alguma “disco-voadorologia” que estudasse somente as naves, e não seus pilotos, a cultura a que eles pertencem, sua tecnologia, intenções, etc.

O próprio termo “extraterrestre”, por outro lado é uma definição de generalidade, não podendo, por ser adjetivo, assumir qualquer conceito. O que está em conta, num sentido abrangente, é a quebra do paradigma do isolamento da cultura terrena (não apenas da raça). É claro que isto faz surgir problemas de interpretação em todos os campos do conhecimento ou da cultura, não se podendo definir uma disciplina para tratar deste assunto especificamente.